Pular para o conteúdo

Entrevista com Jorge Fernandes – Blog Kálamos

entrevista com jorge fernandes blog kalamosConfira a entrevista que realizamos com o escritor Jorge Fernandes, autor do blog Kálamos e de vários outros blogs.

Ele foi o idealizador dos Sorteios de Livros que realizamos mensalmente, além de ser autor de vários artigos publicados aqui no site.

Quem é Jorge Fernandes, pessoalmente e teologicamente?

Sou casado com a Gorete, e pai da Kathleen e do Kevin. Moro em BH. Quanto a dizer o que sou, é difícil falar de mim mesmo, deixo isso para os amigos e inimigos [rsrs].

Teologicamente, como está no perfil dos meus blogs, sou um cristão batista, calvinista, determinista, teonomista e escrituralista. Creio na inerrância, infalibilidade e inspiração da Escritura como a fiel palavra de Deus. Sou membro do Tabernáculo Batista Bíblico, cujo pastor é o amigo e irmão Luiz Carlos Tibúrcio.

O que significa Kálamos, e por que o blog tem esse nome?

Bem, como você sabe, sou muito intuitivo nas coisas que faço. Como não tenho nenhuma formação acadêmica, apesar de ter cursado Direito na UFMG até o 7o. período, desenvolvi o sentido da intuição. Estava procurando um nome e queria algo que fosse em grego. Não me pergunte porquê [rsrs]. E deparei-me, sei lá onde, com o nome Kálamos. Fiz uma pesquisa, e descobri que ele tem vários significados, mas todos ligados a uma espécie de bambú. Era utilizado em templos como planta sagrada queimada no incensário e como material para se fazer “canetas” primitivas. Foi esse o significado que mais me interessou, como objeto de escrita.

Além do Kálamos, quais seus outros blogs?

Há o Guerra pela Verdade, onde posto textos de outros autores, ou reproduzo textos de outros blogs, mas sempre buscando autorização expressa do autor para fazê-los. As vezes, republico meus textos mais antigos.

Tem O que estou lendo… ou li, onde posto os livros que estou lendo e comentários à medida em que leio.

Tenho ainda, o Poesias, onde coloco minha lavra própria; e o Eliot, Cowper & outros, onde posto poemas dos meus autores preferidos.

Tenho um blog de vídeos, e outro de frases.

Quais seus autores preferidos e por quê?

Entre os cristãos gosto muito do Gordon Clark apesar de ter lido pouca coisa dele, já que não há muito material traduzido para o português; e todo ele nos chegou pelo esforço do Felipe Sabino da editora e site Monergismo. Assim como ele, gosto muito do Vincent Cheung, Arthur Pink, John MacArthur Jr., Greg Bahnsen, Agostinho de Hipona, John Gill e João Calvino. Essencialmente porque são bíblicos e não têm o “temor” interpretativo que muitos outros excelentes autores têm de, ao invés de ficarem no meio do caminho, irem até o final na revelação escriturística.

Quanto aos seculares, vou confessar uma coisa: mais do que a própria mensagem ou o discurso [por serem ímpios, não espero muita coisa boa], agrada-me mais o estilo. Citarei alguns: Leon Tostói, Charles Dickens, Machado de Assis, Platão, Olavo de Carvalho, Eric Voegelin, Mário Ferreira dos Santos, Fiódor Dostoieviski, John Fante e Louis-Ferdinand Céline, na prosa. Entre os poetas, Baudelaire, T.S. Eliot, Rainer Maria Rilke, Carlos Nejar, Bruno Tolentino e Murilo Mendes.

Na sua opinião, qual a importância da literatura cristã para o crescimento espiritual?

Fundamental. Nada substitui o texto bíblico, mas Deus se utiliza de homens santos para “facilitar” o nosso trabalho em muitas áreas em que temos dificuldades. O grande problema é que muita coisa dita cristã, não tem nada de cristã; é o que se pode chamar de pseudo-cristã, tem o rótulo mas não tem o conteúdo bíblico.

Infelizmente, a maioria do que se divulga hoje, do que se vende, e do que as editoras investem, pouco ou nada têm a ver com o Evangelho. E o que se está criando é uma sub-cultura cristã, onde o pensamento, os princípios e valores cristãos foram descartados em nome de um pretenso legalismo, mas que não passa de antinominialismo, e por conseguinte, está revestido de antibiblicidade.

Cada vez mais temos livros em que a redenção de Cristo é substituída por uma mensagem de redenção humana, onde o homem se utiliza de Deus segundo a conveniência, sendo ele próprio o seu salvador. É duro conviver com textos humanistas, eivados pelo clamor humano de autoliberdade, de autopiedade, de autocomiseração, que acabará inevitavelmente no autoafastamento de Deus e do Evangelho. É um caminho quase sem volta, se Deus não se apiedasse de alguns, trazendo-os aos trilhos da verdade.

Portanto, considero a literatura cristã importante para o conhecimento de Deus e a consequente santificação do crente, porém, a maior parte do que se encontra nas prateleiras e estantes das livrarias, bibliotecas e residências são obras que levam ao desconhecimento de Deus, e à perpetuação e acomodação do pecado nas vidas.

Como você vê a situação geral da igreja cristã brasileira?

É uma pergunta complexa. Mas vou tentar responder o mais objetivamente possível. Houve uma “explosão” evangélica no Brasil. Estima-se que há em torno de 30 milhões. A questão é: o que esse crescimento tem representado para a sociedade e o país? Temos uma nação temente a Deus? Uma nação que defenda e priorize os valores bíblicos e cristãos? Onde a moral e a ética suplantam a imoralidade e a antiética? Há mais luz que trevas?

Essas perguntas dirão o que a igreja é e tem sido na atualidade. Chego à conclusão de que a igreja bíblica praticamente inexiste no Brasil. Mas como à época de Elias, Deus reservou 7.000 profetas que não se curvaram à Baal, tenho certeza de que ele separou para si “7.000” que também não se curvaram ao deus deste século. Por isso, a urgência de cada vez mais valorizar a leitura bíblica, mas também a sua correta interpretação. E não se é possível ter uma interpretação correta abrindo-se mão da história, e de tudo o que foi definido e entendido pela igreja no decorrer dos últimos 2.000 anos. Uma nova teologia [e há uma busca incessante e insana por algo novo; o termo “neo” é o sufixo da moda], uma nova ortodoxia, uma nova igreja, tudo isso é flertar com a heresia e apostasia. Como está escrito: não se pode servir a dois senhores. Ou se agrada a um ou ao outro. Na ânsia de se libertar de Deus, parte da igreja se aproxima perigosamente do inimigo que dizem combater. Basta observar a profusão de “novas” igrejas, cada qual acalentando o seu pecado próprio, considerando agradar a Deus quando estão em flagrante oposição a ele. Cristianismo sem arrependimento é impossível. Cristianismo sem reconhecer o pecado, também. Considerar que Deus é somente amor mas não é santo nem juiz, é outro grande erro. Fatiar o Evangelho, como se pudesse se apropriar apenas de parte dele, é o mesmo que não ter Evangelho algum. Ou se tem o todo, ou não se tem nada. Por isso a igreja claudica, cambaleia, e cai.

Contudo, Deus conhece os que são seus. O Pastor jamais abandonará as ovelhas que escolheu. E elas conhecem a sua voz, e de modo nenhum seguirão o estranho [Jo 10].

Você acha que o calvinismo tem conquistado o espaço merecido no cenário teológico brasileiro?

O Calvinismo é o Evangelho. Mas assim como o Evangelho é deturpado, o Calvinismo também o é, por aqueles que querem destruí-lo. Muitos deles se consideram calvinistas. Porém, há uma sede no povo de Deus pelo conhecimento da verdade e, por isso, Deus tem levantado mais e mais homens e mulheres para a verdade do Calvinismo. Assim como o Cristianismo é uma cosmovisão completa, perfeita, e que abrange todas as áreas da vida, o Calvinismo também o é. Infelizmente, ainda é estigmatizado, estereotipado, como um exagero de levar a revelação escriturística às últimas conseqüências. Acontece que muitos querem ver tons cinzas na Bíblia, mas como o pr. Lloyd-Jones disse, nela há apenas branco e preto. O problema é que os ideais iluministas estão tão arraigados na sociedade, e por tabela na igreja, que o homem não compreende as dimensões daquilo que Deus revelou como verdade, indubitável e inquestionável; o que leva a mente fragilizada e contaminada pela mentira a associar parte do texto sagrado como sendo absurdo, irracional e despótico. Querem ver Deus através de lentes opacas e deformadoras, que os cegam da verdade e da compleitude da revelação especial.

Não sei se o Calvinismo será um dia sinônimo de Cristianismo em termos quantitativos. Mas em termos qualitativos, Cristianismo é sinônimo de Calvinismo.

Deixe uma mensagem final para os leitores.

Leiam a Bíblia. Diariamente. Leiam os comentários e livros dos santos de todos os tempos, mas sempre segundo a Escritura, que é a nossa regra de fé, a revelação última de Deus. Leia, estude, informe-se. Não se deixe guiar como um boi ao matadouro, mas como uma ovelha para o refúgio do Bom Pastor. Não caia jamais na conversa de que você é livre para buscar por si mesmo a verdade. Não despreze o que homens tementes e reverentes a Deus fizeram no decorrer dos séculos. Ore para que Deus lhe dê sabedoria, pois ele a dá a quem pede. Ore por seu pastor. Ore por sua igreja. Para que Deus santifique o seu povo aqui na terra. Não tenha medo de questionar, mas lembrando-se de fazê-lo sempre em temor e tremor, pois Deus é quem instituiu toda autoridade, sobretudo a eclesiástica. Tenha sempre em mente: Deus me fez santo, e viva a santidade, somente possível por e através de Cristo. Não despreze a cruz. Ame-a. Nem o Evangelho da cruz. Ame-o. Pois de que adiantaria ganhar o mundo e perder a alma? [Mc 8.36].

Cristo os abençoe, imensamente!

Compartilhe!